Escravidão e Inferno!
O Brasil da Chamada fase “Pré-Colonial” e posteriormente, do Ciclo do Açúcar, foi um projeto pensado de acordo com os interesses mercantilistas da burguesia e da Coroa portuguesa. Os trinta primeiros anos foram de poucos contatos e de reconhecimento, bem como de defesa da costa das invasões e das ações de pirataria francesas em Pernambuco, no Maranhão e no Rio de Janeiro. Isto tudo não é novidade alguma. Porém para que tal projeto pudesse vingar, foi preciso uma oportuna conjugação de elementos .
Em primeiro lugar a divisão de terras com a Espanha (através do Tratado de Tordesilhas), que fez com que a outra monarquia ibérica não abocanhasse estas paragens. Em segundo lugar, o fato de que as demais coroas européias se encontravam em momentos de formação ou envolvidas em conflitos continentais que as impossibilitaram de concorrerem com os lusos por este território. Outro fator importante foi a disponibilidade de uma parcela de capitais da iniciativa privada para aceitar as capitanias (em especial São Vicente e Pernambuco, as que efetivamente prosperaram) e por fim a disponibilidade de mão-de-obra a priori indígena e a posteriori africana na forma de escravos, somando a isto, o capital holandês e a parceria comercial com os batavos.
Contingentes elevados de nativos (os negros da terra) e depois de africanos transplantados para o novo mundo é que foram encaixados nos mecanismos de exploração colonial de modo a tornar esta empreitada possível e lucrativa. Em especial a economia agroexportadora do açúcar absorveu um número enorme de braços africanos e transformou-os à custa de castigos, torturas e imposições em ladinos, “mãos e pés” dos senhores de engenho, na expressão de Antonil. Além de serem importantes na atividade agrícola, estes escravos eram uma excelente fonte de lucros no tráfico negreiro através do Atlântico.
O curioso é que o pagamento por tais escravos nas regiões onde eram capturados era feito em algodão, cachaça, melaço e fumo, sendo assim a complementaridade se dava de forma muito conveniente, pois os bens da terra serviam como moeda de troca pelos africanos.
A prática escravista do lusos vinha de longa data e era conhecida dos europeus desde as Cruzadas, onde os “infiéis” (mulçumanos) – assim chamados pelos cruzados – podiam ser escravizados com o aval da Igreja, Rapidamente esta particularidade se estendeu para os povos nativos do Continente Africano devido à sua religiosidade diferenciada e ao fato de serem considerados inferiores em relação aos europeus.
Tais justificativas também foram aplicadas em relação aos Ameríndios que igualmente foram utilizados como escravos mas, que devido a elementos como a alta mortalidade (provocada pelas guerras de escravização e pelas doenças trazidas da Europa) a baixa demografia nativa no litoral, ao incentivo dado pela Coroa para compra de escravos da África (com interesses econômicos) e pela intervenção católica que queria a catequização dos índios foi sendo gradualmente substituída pela força dos africanos.
Desta forma o Brasil foi inserido nas rotas comerciais européias. Com a iniciativa da Coroa e a participação de particulares e principalmente com o suor e o sangue de negros e índios que cultivaram e extraíram riquezas desta terra.
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Mais:
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. Companhia das Letras, São Paulo: 1999.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Companhia Editora Nacional, São Paulo: 2004.
KOK, Glória Porto. A Escravidaão No Brasil Colonial. Editora Saraiva, São Paulo: 1997.