domingo, 29 de março de 2009


No início do século XVI, o Brasil e sua produção açucareira ocupavam um destacado papel na economia portuguesa e, por que não dizer, no comércio europeu. Justamente devido a essa importância a colônia despertou o interesse dos holandeses, que a princípio foram parceiros dos portugueses nos negócios coloniais do açúcar.

A União Ibérica (1580-1640), período em que Portugal e Espanha formaram um só reino, mudou as características amistosas das relações comerciais com os holandeses. Por serem inimigos da Espanha, que controlou as colônias de Portugal durante a citada União, os holandeses optam por invadir o Brasil, inicialmente Salvador (1624-1625) e depois, Pernambuco. Conquistada a capitania expandem seus domínios para a Paraíba, o Rio Grande Norte, Ceará e Maranhão. É nesta fase que se instala um governo Holandês no Nordeste do Brasil e chega o Conde Maurício de Nassau.

Nassau e a transformação do Recife

A serviço da WIC (sigla de Companhia de Comércio das Índias Ocidentais), Nassau transforma a pequena vila do Recife no centro de seu governo. Para reestruturar a economia açucareira concede empréstimos a senhores de engenho. Executa obras públicas como drenagem de áreas alagadas, construção de prédios públicos, criação do jardim botânico e de um observatório astronômico entre outras. Também traz missões científicas e artísticas e com a ajuda de um certo “boi voador” arrecada dinheiro para a construção da mais longa ponte da América na época. Tudo isto somado a um momento de tolerância religiosa incomum naquele período.

Sua administração marcou de tal modo o imaginário e a memória dos pernambucanos que, apesar de seu governo ter durado apenas sete anos e ter ocorrido há mais de três séculos, ele permanece como uma referência por quem os recifenses e praticamente todo o povo de Pernambuco possuem uma certa admiração.

Outros tempos

A forma de Nassau administrar gerou desconfiança e não contou com a aprovação da WIC que o destituiu do cargo e cobrou as dívidas dos senhores de engenho. Revoltados, os produtores de açúcar, pegaram em armas, e mesmo sem contar com o apoio português, venceram os holandeses em algumas batalhas, era a Insurreição Pernambucana. Ao final dos conflitos e já com o apoio da metrópole os batavos foram expulsos pelos luso-brasileiros, feito que enche de orgulho o povo pernambucano que cita este fato como o “nascimento da pátria brasileira”. Devido a acordos e pressões a Holanda foi recompensada com uma indenização de 4 milhões de cruzados e com algumas colônias portuguesas na África e na Ásia. Isto no entanto, não desmerece o feito dos que lutaram.

Depois da expulsão dos holandeses muito coisa mudou, Portugal já estava separado da Espanha e a sua colônia na América havia aumentado de tamanho graças a interiorização de certas atividades como a pecuária, as missões jesuíticas e as ações dos bandeirantes. Com o declínio do açúcar, provocado pela concorrência antilhana, novos tempos se iniciariam e irão formatar o território e a colonização doravante.

domingo, 22 de março de 2009

Charles Darwin, 200 anos.


No Brasil e em muitos outros lugares já se vivia o clima de Carnaval. Já na comunidade científica comemoravam-se os 200 anos de nascimento do naturalista inglês Charles Darwin (12/2/1809-19/4/1882). Darwin é o responsável por uma das mais importantes e revolucionárias teorias da ciência moderna: A Teoria da Evolução das Espécies. Publicada em 1859 no livro “A Origem das Espécies”, esta tese defende a ideia de que há na natureza uma seleção natural dos seres mais aptos e uma eliminação dos menos dotados.
Como não poderia deixar de ser esta teoria causou muita polêmica e gerou as mais diversas reações.
A pesquisa
Charles Darwin viajou a bordo do navio HMS Beagle, que fazia a coleta de dados cartográficos para a marinha britânica. A viagem do Beagle durou quase cinco anos (1831-1836), sendo que Darwin passou parte deste período em terra firme. Durante a viagem – mesmo com períodos de estadia – Darwin pode coletar importantes informações que ele juntou a dados de pesquisas anteriores feitas por estudiosos de diversas áreas e que foram sedimentando as ideias sobre a evolução e a seleção natural das espécies. Ao final da viagem ele já havia se tornado importante no universo acadêmico graças à divulgação, por alguns amigos, de parte de suas ideias e de seus resumos.
A vigem a bordo do Beagle não foi fácil. Durante o percurso Charles Darwin sofreu de palpitações, vômitos e outros sintomas que por pouco não o fizeram desistir, mas ele manteve-se firme em seus propósitos científicos e concluiu a jornada, mesmo não recebendo nenhum pagamento por isto.
A divulgação dos resultados e as reações
Darwin demorou para publicar suas idéias. Em 1844 lançou o livro “Vestígios da História Natural da Criação”, que provocou reações adversas até mesmo em alguns de seus amigos (note-se que o título do livro ainda menciona a criação). Sabendo das possíveis reações que suas teorias iriam provocar ele decidiu ser cauteloso ao divulgá-las, porém com notícia de que Alfred Russel Wallace, trabalhava numa tese similar à sua, Darwin decidiu publicar em 1858 o resultado dos seus estudos em conjunto com os de Wallace. Como se previa a divulgação gerou reações que iam da incredulidade às mais grotescas charges e insultos. Tanto nos meios acadêmicos quanto na esfera religiosa a teoria da evolução encontrou adversários e gerou polêmica. Ao final do século XIX e, especialmente, no século XX é que as idéias de Darwin se tornaram a principal fonte explicação científica para o surgimento e a evolução das espécies de seres vivos do planeta. Mesmo hoje, ainda há rejeição às ideias darwinianas como por exemplo em certos lugares dos Estados Unidos onde o evolucionismo foi banido dos livros didáticos e das salas de aula.
Algumas curiosidades
Durante os quase cinco anos que duraram a viagem do Beagle, Darwin passou mais de um terço em terra firme, onde se hospedou e ate residiu por certo tempo em alguns lugares, entre eles, o Brasil (onde esteve em Fernando de Noronha, na Bahia e no Rio de Janeiro).
No Chile presenciou um terremoto.
Darwin fez observações geológicas afirmando que a massa terrestre da América estava se elevando.
Para fortalecer suas ideias sobre as mudanças que poderiam ocorrer em determinadas espécies animais Darwin conversava frequentemente com criadores de pombos e porcos.
A importância de Darwin
É difícil negar a importância dos estudos de Charles Darwin e sua contribuição para o conhecimento da humanidade. Só mesmo deixando de lado certos ranços e preconceitos podermos ter a clara noção da revolução provocada por suas teorias.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Minha pátria é minha língua

Você está escrevendo algo e de repente... aquela dúvida: como é que se escreve essa palavra? Se você estiver usando algum editor de texto talvez o corretor ortográfico dê um jeito e tire a sua dúvida mas, e se ele não estiver atualizado pelo Novo Acordo Ortográfico? Bom aí melhor consultar uma fonte mais segura. Mesmo assim ainda é possível que não seja tão simples resolver a questão pois a maioria das gramáticas e dicionários ainda não está atualizada.

Agora, se você está pensando que problemas com a escrita são exclusividade sua e de seus contemporâneos, enganou-se. Dificuldades com a língua não são novidades. As mudanças na gramática portuguesa já foram muitas e, por diversas vezes, as pessoas já se atrapalharam sobre a escrita correta de verbetes do seu idioma.

Do Tupi às primeiras reformas

Para começar o idioma mais falado nos primeiros tempos de colonização do Brasil , mesmo entre os lusos que se aventuraram a colonizar estas terras, não era o Português e sim do tronco linguístico (sem trema mesmo) Tupi. O próprio português que os reinóis usavam era bem diferente do atual, por exemplo palavras como céu e dói eram escritas assim: ceeo e dooe, sem contar que palavras de origem indígena, africana e até árabes foram incorporadas à língua da Terra Brasilis,. Na segunda metade do século XVI com o advento do renascimento as formas grega e romana da escrita de certas palavras é que estavam na moda e por isso uma mudança na grafia como por exemplo, philosophia e theatro (lembrou de farmácia com ph hein?).

O idioma nos séculos XIX e XX

Já no século XIX a escrita foi ficando mais aberta e simplificada necessitando para isso de reformas que se tornaram cada vez mais comuns. Mudanças aconteceram e foram revogadas ou ratificadas tanto em Portugal quanto no Brasil. Sendo que pequenas modificações foram acontecendo ao longo de décadas, como em 1945 quando foi assinado o Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro, que não vigorou. As dificuldades de se criar uma ortografia simplificada continuaram, até que em 1986 no Rio de Janeiro, através de seus representantes, os sete países de língua portuguesa (Timor Leste, ainda não era independente) se reúnem e elaboram as Bases Analíticas da Ortografia Simplificada da Língua Portuguesa de 1945 (retomando o antigo acordo); Em 1990 o acordo de 1945 (ratificado em 1986), ganha uma nova versão. Em 1998 o acordo estabelece que é necessário que todos os membros da CPLP assinem para que as mudanças tenham validade.

Reformas do século XXI e perspectivas

Em 2004 surge o Primeiro Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa, que define ser necessário que apenas três países da CPLP assinem o acordo para que o mesmo tenha validade. O Brasil assina o acordo em 2006 e é seguido por Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Em 2008 é a vez de Portugal assinar o acordo que é oficializado no Brasil.

O atual Acordo mostra um avanço no diálogo entre os países membros da CPLP e um fortalecimento do grupo diante dos novos desafios que a globalização sugere, além disso, é um revigoramento de um elemento cultural que é a língua, um dos aspectos unificadores desses sete países. Diante do processo globalização, as mudanças pelas quais o idioma português passa, são provas de sua vivacidade e de sua relevância.

Portanto mesmo que nos queixemos agora, já que toda mudança traz desconforto, temos muito a evoluir no futuro ainda mais globalizado.

Cabe perguntar: o Acordo Ortográfico é uma influência ou um sintoma do processo de globalização.

Finalizando, se como disse o poeta a pátria é a língua, então, graças ao novo acordo e à língua portuguesa, temos muitos conterrâneos em outros continentes.